sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Meu Interior

(...)

Fui no lixão hoje.
E não havia nada reciclado,
Tampouco cheiro de jasmim,
Lá no interior de mim.

Era tanta sujeira acumulada,
Ratos, baratas,
E uma pessoa se escondendo.
Quando entrei, os abutres já sem bico,
Faziam festim num coração aberto.

Nem quis ver mais aquela cena,
Então, senti um odor indescritível
Vindo das profundezas.
Temores, desejos, incertezas,
Vagavam a procura de alguém,
Talvez morto.
Não sei dizer.

O solo estava encharcado,
Húmus misturado com suor,
Sangue e lágrimas de um passado não vivido.
Tentei não vomitar
E regurgitar o meu ego ferido,
Era tarde.
Os insetos pousavam em mim,
Sentia-me como uma secreção,
Colada num papel higiênico rasgado.
E não estava muito longe de ser isso.

Se fosse amigo das palavras,
Escreveria até um livro,
Mas era como um catador juntando versos,
E não os venderia pra ninguém.

Naquele lugar, confesso,
Eu não queria passar o Reveillon.

Lucas Matos

Um comentário:

  1. A descrição do cotidiano é literal, mas poucos conseguem atingir o nível de simplicidade e artisticidade contidos nesse texto...Muito Bom!!!

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